Uma das temporadas mais marcantes do futebol brasileiro chega ao fim. Sim, na minha opinião, 2019 ficará na história da modalidade no País. E por várias razões.
Primeiramente, pelo merecido sucesso dos dois treinadores estrangeiros que conquistaram o campeonato e o vice brasileiro – não esquecendo, claro, que Jorge Jesus ainda faturou o bi da Libertadores, quebrou recordes e tem a oportunidade de recolocar o Flamengo no topo do mundo. Ao lado do hermano e xará Sampaoli, o português derrubou paradigmas, colocou o estilo vigente em xeque e recuperou a beleza do futebol canarinho, perdida nesta década.
Mas ainda que os gringos sejam a bola da vez, injusto seria não mencionar uma nova e promissora safra de técnicos brasileiros. E, dos bons nomes que se destacaram, impossível não citar Tiago Nunes, que fez ótima campanha com o Athletico Paranaense e em 2020 estará à frente do Corinthians.
Fora de campo, 2019 também foi muito rico no âmbito do Marketing.
Como não se empolgar com o estrondoso sucesso do plano de sócios do Vasco da Gama, que bateu a impressionante marca de 170 mil pessoas em menos de 30 dias, amparado num modelo de baixo preço e política agressiva de envolvimento com as redes sociais? Foi um daqueles golaços lindos de se ver!
Não menos lindo foi o trabalho realizado pelo pessoal do Bahia, que apostou nas diferenças e deu show de bola com diversas ações inclusivas e afirmativas. Parabéns aos tricolores da Boa Terra!
Houve, ainda, a chegada em massa das empresas de apostas, patrocinadoras de diversos clubes; a consolidação das marcas próprias, transformando o mercado de fornecimento de material esportivo; e a proliferação de eventos especializados em todo o território – em especial, no Sudeste e Nordeste -, oportunizando o compartilhamento de conhecimento e aproximado os profissionais do esporte na troca de experiências e negócios.
Num âmbito que transita entre o Marketing e os negócios em geral, ressalto a consolidação do streaming como a bola da vez das transmissões esportivas. E, quando escrevo “bola da vez”, não quero com isso tratá-lo como moda. Creio que a força e a capilaridade dessa tecnologia não nos permitem pensar em retrocesso do modelo; muito pelo contrário. É daqui para adiante – ainda que não seja possível, por ora, imaginar o que o futuro nos reserva, tamanha a velocidade com que as tecnologias evoluem.
Mais propriamente no campo da gestão, importante destacar a parceria Red Bull/Bragantino, que pouco tempo depois de formalizada culminou com uma vaga na Série A do Brasileirão 2020 – com pinta de clube grande, inclusive, e promessa de dor de cabeça a muita agremiação tradicional.
Dois mil e dezenove também deixou no ar a expectativa de um novo Botafogo na próxima temporada, economicamente apoiado por um grupo de ilustres torcedores liderados pelos irmãos Moreira Salles.
Ambos os casos – Red Bull/Bragantino e Botafogo – vieram à tona em meio à possibilidade de aprovação, pela Câmara dos Deputados, da Lei das SAE – Sociedades Anônimas Esportivas, que poderá oportunizar aos clubes, mais uma vez, a negociação de pendências financeiras com o Fisco na eterna busca pela profissionalização da gestão. Está aí uma situação para acompanharmos de perto: será que finalmente chegou a hora do modelo de clube-empresa se firmar por aqui?
Num projeto mais modesto, mas não menos empolgante, quem quer aproveitar essa possível onda de profissionalização para voltar à cena é a querida Portuguesa. O clube, prestes a vivenciar um processo eleitoral, viu surgir no segundo semestre deste ano um grupo político jovem e bem-intencionado, denominado REVOLUSA 2020. Ouso dizer que muitos brasileiros torcem verdadeiramente para que essa tradicional equipe paulistana se recupere e volte a desfilar seu escudo pelos gramados de elite do País.
Por óbvio, 2019 não foi um ano apenas de conquistas, alegrias e cases de sucesso. Como tudo na vida, a temporada também trouxe dissabores. Dentre eles, os rebaixamentos do gigante Cruzeiro – alvo, assim como o Internacional, de escândalo financeiro protagonizado por ex-dirigentes, registre-se – e da simpática Chapecoense, que parece sofrer neste ano as consequências da tragédia de 2016.
O ano também ficará negativamente marcado como mais um sem resultados por parte de algumas das modernas arenas construídas para a Copa de 2014, hoje praticamente paradas. São os casos dos estádios de Manaus (AM), Cuiabá (MT) e Natal (RN), cujos governos estaduais já falaram até em implodi-los – lembrando que todos custaram muito dinheiro aos cofres públicos e aos contribuintes.
Curioso é que, relembrando a temporada para escrever esta coluna e pesquisando o que compartilhei ao longo do ano, reli o artigo publicado ao final dos estaduais, em abril. Nele, elenquei cinco áreas que poderiam ser trabalhadas pelos clubes para a geração de novas receitas na sequência de 2019.
E não é que, mesmo sem ter a pretensão de prever o futuro, querer parecer um guru ou ditar as regras do mercado, quatro dessas oportunidades foram bem-sucedidas e agora dão corpo a este artigo que encerra o ano? Compare-os e deixe seu comentário sobre o que você espera do futebol brasileiro em 2020.
Para um ano esportivo que começou cheio de incertezas, julgo que 2019 se vai em alta, pavimentando o caminho para a construção de uma nova realidade em tempos vindouros. Que venha o novo ano!
Boas Festas!
(Com edição de Ricardo Mituti)