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- 16/07/2020 21:55
- Jorge Avancini
CAMINHO PARA MODERNIZAR VOTO SANTISTA É TRABALHOSO, MAS NÃO IMPOSSÍVEL
Por FELIPE HIPOLITO
Quem olha a situação do Santos, que há anos luta pelo voto a distância mas ainda tem votação em cédulas, pode imaginar que a possibilidade de votar no candidato a presidente de qualquer lugar do mundo, tão sonhada por muitos santistas e permitida pelo estatuto do clube desde 2011, é algo muito distante ou caro. Mas, apesar de envolver várias etapas e alguns custos, o processo necessário poderia ser perfeitamente viabilizado em pouco tempo e a nova modalidade de voto seria possível até mesmo na eleição deste ano, em dezembro, apesar de isso ser pouco provável por conta da auditoria (análise detalhada dos dados dos sócios, por conta de possíveis irregularidades), entendida como necessária por uma comissão do Conselho Deliberativo, ainda não ter sido sequer contratada pela diretoria santista. Para entender esse passo a passo, o Papo do Hipolito ouviu profissionais que entendem do assunto. Confira.
Segundo Jorge Avancini, especialista em marketing esportivo que conduziu o projeto do programa de sócios do Internacional, atingindo 100 mil associados em junho de 2009, uma das principais barreiras que o Santos precisa enfrentar é a falta de vontade política de fazer mudanças, quebrar paradigmas e modernizar o clube. “É uma mudança de mentalidade. Muitos conselheiros ou diretores mais velhos, por não conhecer o voto a distância, ou por ter vantagem eleitoral com o modelo tradicional, oferecem resistência. Mas aí entra o convencimento. É preciso insistir! É preciso persistir e acreditar na ideia!”, afirma. No Santos, após o trabalho de uma comissão que apurou a necessidade de uma auditoria do cadastro de sócios, o presidente José Carlos Peres sabe que a empresa apresentou um cronograma para realizar o trabalho em aproximadamente quatro meses, mas a gestão, já com orçamento e cronograma em mãos, ainda não fez a contratação e, mesmo que a faça, o término de todo o trabalho a ser feito pela empresa de auditoria (inclui a auditoria em si e outras etapas), se contratado hoje, seria às vésperas da eleição, o que dificultaria muito a viabilidade de um pleito com voto a distância neste ano. O Conselho já deixa claro que não vai aprovar nenhum serviço de voto a distância antes da conclusão desses serviços.
De acordo com a experiência do especialista, o prazo poderia ser bem menor para implantar esse serviço. É muito importante, na avaliação dele, que também foi diretor de mercado do Bahia, entre 2015 e 2017, e implantou a modelagem de sócios do time baiano, algo ainda inexistente no Santos, além de ter a posse dos dados (hoje o Santos terceiriza a gestão do serviço): o clube precisa fazer a "higienização" das informações: acrescentar dados faltantes, apagar cadastros duplicados, alinhar os diferentes direitos que cada título de sócio , etc.. O trabalho pode ser feito por uma empresa especializada, em até 45 dias úteis. A auditoria pedida por conselheiros poderia ser feita em um prazo ainda menor. Todo o processo até a implantação do voto pela web poderia ser feita em até 90 dias, segundo Reginaldo Diniz, profissional de marketing com vasta vivência nesse tipo de implantação e um dos fundadores de uma empresa de marketing digital.
Após o trabalho de correção e complemento do banco de dados santista, o clube poderia partir para dois caminhos de voto a distância mais modernos: site ou aplicativo.
Foto: Agência A Tarde
Jorge Avancini mostra que modernização do voto santista é perfeitamente possível
De acordo com Avancini, a tecnologia para votar no próprio site do clube é um pouco mais simples. "O Santos pode desenvolver essa nova seção para a votação com seu departamento interno de TI (tecnologia da informação) ou contratar esse serviço com empresa especializada. O associado receberia , pouco tempo antes da eleição, um comunicado via e-mail com o passo a passo para checar seus dados, criar senha e contrassenha específicas para poder votar online, caso queira votar online, caso queira votar dessa forma. Assim, ele teria a senha usual do site e uma segunda chave (contrassenha) para usar apenas no dia e horário da votação. O sócio precisaria deixar clara a sua opção no site do clube: forma presencial, site ou aplicativo do clube, por exemplo. Cada sócio só poderia votar por um dos canais, para evitar fraudes com mais de um voto por pessoa. Isso se controla pelo IP do meio utilizado para o voto. É preciso que o clube tenha um controle rígido e bem seguro desses dados, para impedir mais de um voto por pessoa, e há recursos e ferramentas para controlar isso", explica.
E é perfeitamente possível estabelecer um sistema seguro. Segundo Diniz, além da dupla checagem de que o sócio com o CPF específico já foi votado, também há como implantar reconhecimento de digital no app, reconhecimento facial, etc..
O aplicativo demanda um tempo maior para o desenvolvimento, de acordo com o especialista. Segundo Avancini, o custo para criar a ferramenta, ainda inexistente no Santos, fica em torno de R$ 50 mil, mas o custo mensal para a manutenção seria inferior a esse montante, ou seja, algo irrisório para um clube da grandeza do Peixe. Diniz também assegura que os valores cobrados para manter o aplicativo em funcionamento, apesar de variar por conta do modelo usado pelo clube e por especificidades como reconhecimento facial, são bastante viáveis para um clube como o Santos. "O que se cobra é um valor de mercado, mas muito competitivo e longe da casa dos milhões", diz o empresário.
O aplicativo permite uma série de funcionalidades práticas aos torcedores, inclusive a votação, para os sócios.
Foto: Tomas Diniz
Reginaldo Diniz: sistema de voto a distância tem valor longe da casa dos milhões
De acordo com Avancini, independentemente do voto a distância já ser implantado na próxima eleição do clube, seria negociar as urnas eletrônicas do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de São Paulo e fazer a distribuição delas em três pontos da capital e em algumas cidades-chave do interior, além da sede do clube, em Santos. Assim, ao menos os sócios teriam mais opções e não se deslocariam tanto para votar apenas em um ponto da cidade de São Paulo ou em Santos. A comissão eleitoral do Santos, formada na semana passada, já pensa seriamente nessa possibilidade. Nas próximas oportunidades, já longe das restrições tão necessárias atualmente por conta da pandemia de Covid-19, o Santos pode aproveitar os espaços inclusive para promover eventos atrativos aos sócios que tiverem condições de se deslocar, com atrações para a criançada, entre outras, o que já é feito pelo Internacional há muitos anos.
Clube só tem a ganhar
Avancini vê a implantação dessa modalidade de voto como algo muito benéfico para o clube. "O sistema fica mais democrático, pois qualquer sócio dentro dos requisitos estabelecidos pelo estatuto poderia botar, em qualquer parte do mundo. O Santos é um clube com torcedores espalhados por todo o planeta. E isso certamente faria muita gente se associar".
Para o especialista em marketing e gestão esportivos Amir Somoggi, mesmo o custo de uma implantação permanentes seria ínfimo, até mesmo por conta dos muitos benefícios. "Não vejo outro caminho. O Santos é um clube, assim como o Flamengo, que tem muito mais torcedores longe da sede do que perto dela. Normalmente ocorre o inverso. O Santos é o grande exemplo, assim como o time carioca, de um clube que é muito maior fora. Só na capital do estado e interior, há 1 milhão de santistas, para exemplificar", afirma.
"O voto a distância é fundamental, mas muitos vêem nele um problema, porque acaba com a hegemonia do pessoal de Santos sobre o clube e o candidato com melhores propostas de futebol, gestão, vai vencer. Para quem quer grupos políticos mandando internamente e deteriorando a gestão, essa inovação representa um problema mesmo. Eu acredito muito em um programa de sócio torcedor amplo, que tenha como um dos principais benefícios o voto a distância, como grande avalancador do número de sócios para 100 mil, 150 mil. O custo disso é baixo perto do que a atual gestão e anteriores gastaram com salários nababescos do executivo e de técnicos, jogadores. Quanto o Santos gastou no ano passado com Sampaoli, por exemplo? Perto disso, o valor para fazer um projeto estrutural de voto a distância é praticamente de graça", opina o gestor.
Foto: arquivo pessoal
O defensor do voto a distância e santista apaixonado Amir Somoggi, entre os gênios Coutinho e Pepe
URL original da matéria: https://felipechipolito.wixsite.com/blogdohipolito/post/caminho-para-modernizar-voto-santista-%C3%A9-trabalhoso-mas-n%C3%A3o-imposs%C3%ADvel